terça-feira, agosto 04, 2009

No jogo da imagem

O Imagem Pensamento apresentou a mostra no “No jogo da imagem”, curadoria de João Dumans que investigou algumas das possíveis relações entre o vídeo e a arte contemporânea. Para o curador, em conversa com o público após a mostra, a idéia do recorte não tem nenhuma pretensão de ser um recorte geral. “A curadoria não busca reivindicar uma especificidade dessa relação, mas tenta ser um acúmulo de contrastes”, disse Dumans. “A idéia é tentar entender se há alguma diferença nos vídeos que são realizados no domínio das artes plásticas”. Para Dumas, os vídeos da mostra são realizados a partir de princípios narrativos simples que se desenvolvem na duração da imagem. “O gesto importante desses artistas é fazer com que a imagem se interesse por essas idéias simples”. Para Dumans, o vídeo traz uma facilidade, que é a urgência de trabalhar com aquilo que se tem às mãos. “O vídeo permite uma urgência que é lidar com essa dificuldade imposta pelos jogos do mundo”.

De acordo com Dumans, é possível apontar uma diferença principal, que é referente aos circuitos de exibição. Para ele, poucos festivais, como o Videobrasil, se interessam pelos vídeos produzidos por artistas plásticos. “Talvez seja uma exigência dos próprios trabalhos, que precisam ser articulados com outros trabalhos dos artistas para ganhar coerência”, apontou. “Para analisar esses vídeos não se deve abandonar o contexto onde elas foram produzidas, mas também é preciso imaginar que elas têm uma autonomia”. Uma outra diferença que os vídeos da mostra possuem, conforme aponta Dumans, é mais importante do que a instituicional. “Mas não existe uma diferença apenas institucional, há o uso de materiais que aparecem de uma outra maneira”. Exemplo dessa relação, aponta Dumans, é o vídeo de Susana Bastos que apresenta um movimento de umas pernas que são esculturas. Outra questão importante que marca a relação entre o vídeo e as artes plásticas é a instalação. “O vídeo não pode se restringir ao dispositivo”, disse Dumans. “Esses trabalhos podem ser analisados enquanto vídeos, que tem uma vida própria quando exibidos em uma sala de cinema, como nessa mostra”. Dumans completou que é importante ver os trabalhos nesse formato, já que normalmente eles são exibidos em instalações ou exposições que permitem ao público ver a obra de forma fragmentada. “É um privilégio ver a obra na duração concebida pelo artista”, disse.

Se o espaço físico das galerias e das instalações é um aspecto importante, Dumans afirma que o recorte da mostra buscou apontar obras que trabalham com o espaço físico da imagem. “Mas não são todos os vídeos que evidenciam esse trabalho”, pontuou. “De que forma é possível ocupar o espaço físico do quadro? O quadro seleciona o que a gente vê e esses trabalhos trazem à tona aquilo que esta fora da imagem”. Em ”Saint Emilion” de Ilan Waisberg, Dumans entende que a obra apresenta uma tensão permanente entre aquilo que se vê e o que não é visto. A interferência do extra-campo também é algo marcante em outra obra para o curador, o já citado vídeo de Susana Bastos “Where are you going?”. “Em Buraco Negro, há uma certa performance, as personagens estão fora do quadro e o que a imagem mostra são os vestígios dessa atuação”, disse Dumans a respeito de “Buraco Negro” de Cinthia Marcelle e Tiago Mata Machado.

“Objetos do Desejo”, de Marco Paulo Rolla, é para Dumans um trabalho que traz o extra-campo para dentro da imagem. “Temos acesso ao que acontece na ação apenas por meio do som, já que não vemos o artista que se esconde no meio dos objetos”. “Traslado”, de Sara Ramo, é mais uma relação entre o visível e o invisível. “Tem alguma coisa que o quadro não deixa a gente ver”, disse Dumans. “É um vídeo que explora os fundos falsos e os buracos da imagem”.

Confira no post abaixo o ensaio de João Dumans produzido especialmente para a mostra “No Jogo da imagem” e que trata mais detidamente sobre a sua opção curatorial e sobre cada um dos vídeos.

Nenhum comentário: