segunda-feira, maio 18, 2009

Patti Smith - Smells Like Teen Spirit
Videoclipe dirigido por Jem Cohen. Algumas das imagens do vídeo estão em Long for the city


Patti Smith - Smells Like Teen Spirit (Official Music Video) - Funny video clips are a click away

Videocidades


Foram exibidos oito trabalhos de artistas nacionais e internacionais na mostra Videocidades, que foi comentada por Natacha Rena, arquiteta, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e professora da Universidade Fumec. As tensões que constituem a imagem na contemporaneidade foram o eixo conceitual que ela seguiu para analisar os vídeos. “Existem as imagens ligadas ao consumo, da tv e da publicidade, que pedem que sejamos consumidores passivos dessas imagens do Império e por outro lado existem aquelas como as da videoarte”, explica Rena. “Mas também há vestígios das imagens da arte nas imagens do capital”. Para a pesquisadora, o vídeo cria resistência às imagens do controle. Alem da questão das resistências, Natacha abordou como a velocidade, como conceituada por Paul Virilio e Richard Sennet, é um aspecto importante nos meios de comunicação e no urbanismo. “Atravessar rapidamente a cidade representa perder um pouco da experiência da cidade”, diz. Ela aponta que alguns dos vídeos da mostra utilizam a desaceleração como um recurso estético importante, possibilitando uma outra forma de experimentar a cidade.


Em sua fala, Natacha relembrou o texto Videocidades, de César Guimarães, quando o autor fala que o vídeo pode produzir perceptos: “Entretanto, livre dos projetos de totalidade que marcaram muitas das obras modernas nos mais diversos campos - da arquitetura ao cinema -, o vídeo, colocado sob o domínio do fragmentário e do experimental, pode produzir os perceptos característicos da “cidade superexposta” (conforme a expressão de Virilio). Os perceptos - escrevem Deleuze e Guattari - são um bloco de sensações, ou melhor, são seres de sensação, auto-suficientes, que transbordam a percepção, a experiência, o vivido, e encarnam-se nos diferentes materiais da arte - escrita, terra, tela, papel ou acorde” (Confira aqui a íntegra do texto de César Guimarães).


Natacha também assumiu que mantém uma relação de critica com a arquitetura. “Os dispositivos de controle permitem uma outra forma de se mapear a cidade, mas enquanto isso os arquitetos estão preocupados com monumentos, grandes edifícios”, aponta Rena. “Usamos pouco no Brasil os dispositivos de imagem como um elemento da arquitetura”. Além disso, ela entende que a arquitetura deveria pensar os seus projetos a partir da experiência, dos usos que aquela construção proporcionará às pessoas. “É preciso olhar para o cotidiano, inverter a lógica da produção”, diz.


A seguir, o que Natacha Rena disse sobre cada um dos trabalhos:


Mapping a the city fragments (09’30”, 1997) de Chip Lord

“É uma cidade complexa para uma comunicação oral. Assim como o desenho, o projeto arquitetônico não fala da cidade em sua totalidade. A lógica da cidade não consegue apreender a totalidade das imagens, como o vídeo de Chip Lord demonstra. Os arquitetos estão mais preocupados em desenhar monumentos em vez de perceber que estamos sendo mapeados por outros dispositivos, como o cartão de crédito. O que me recebe na cidade são outras coisas que não os monumentos, ainda existe uma noção muito romântica da cidade e os arquitetos insistem nela”.


Movimentos detidos (03’20, 2008) de Celina Portella

“É um vídeo singelo, mas é uma manifestação artística que subverte o controle da cidade. Ela usa o sticker, que é uma manifestação artística ainda marginal, que sempre tenta vencer as barreiras que o controle da arquitetura impõe à cidade. Ela deixa marcas na superfície da cidade, subvertendo seus espaços, já que atravessa gradis, deita-se no corrimão da escada e se coloca como que pulando os muros. Uma atitude nítida de transgredir os limites impostos pela cidade”.


Nocturne (05’, 2002) de Emily Richardson

“O vídeo mostra os vazios da cidade, mas que mesmo sem pessoas é muito iluminada. O enquadramento parece com o de uma câmera de vigilância. É um vídeo até certo ponto sobre o nada, mas que é político de alguma forma”.


...feito poeira ao vento... (03’30”, 2006) de Dirceu Maués

“O mercado ver o peso em Belém é aquilo mesmo que está no vídeo... Com a pinhole, um método artesanal e marginal de produção de imagens, ele desacelera as imagens, permite que vejamos os perceptos da cidade. É um local low tech registrado também com low tech.”


Estereo-Scape (06’, 2002) de Daniel Trench

“É um vídeo bastante estético e relacionado ao design. A cidade espelhada parece flutuar. A lentidão da imagem faz com que ela pulse. É um vídeo que levanta diversas questões estéticas a respeito da desaceleração. Queria usá-lo como um quadro, pendurá-lo na parede...”


Entre rios (15’30”, 2007) de João Castilho

“É talvez o trabalho mais delicado e poético da mostra. É uma agenciamento que desterritorializa e reterritorializa os objetos. Lembrei-me do livro de Michel de Certau, a “Invenção do cotidiano”. É um trabalho impecável esteticamente. O silêncio do vídeo é quase constrangedor para nós, espectadores”.


Long for the city (09’, 2008) de Jem Cohen

“Apesar dos clichês recorrentes ao tema da memória, imagens em P&B, granuladas, o vídeo consegue captar a Patti Smith, a memória e o tempo... closes que mostram a pele, e o cabelo desgrenhados de Smith. Há uma melancolia no trabalho. Cohen mostra a cidade filtrada por outras coisas, um contraste entre a natureza e o espaço urbano. Existe em arquitetura em termo que é gentrificação, quando um espaço urbano é revitalizado, limpo das mazelas urbanas. É uma questão importante, quando Smith comenta sobre Donald Trump e sua noção de uma cidade asséptica, com os seus prédios de luxo”.


Território Vermelho (12’, 2004) de Kiko Goifman

“Esse vídeo demonstra outras possibilidades de se fazer arquitetura. A arquitetura é um elemento de separação, é uma necessidade de delimitar os espaços, de dividir o público do privado. No caso do vídeo, elemento separador são as janelas dos carros, onde também aparecem os reflexos dos prédios. Kiko demonstra que entre os excluídos existe toda uma cidade formal acontecendo. No filme, os dispositivos de imagem ajudam a mapear a cidade de uma outra forma”.