terça-feira, outubro 30, 2007

Ruínas e Impasses do Pós-Guerra

Por Alevi Ferreira


A mostra Ruínas e Impasses do Pós-Guerra que o Imagem Pensamento exibiu no dia 27/10 contou com os comentários de César Guimarães, pesquisador e professor do Departamento de Comunicação da UFMG. César iniciou falando sobre o desafio que é, para ele, comentar obras em vídeo, que trabalham em circuito diferente e com uma dinâmica diferente da produção cinematográfica. “Ao falar do vídeo eu compartilho o lugar do espectador comum”, disse.

Guimarães fez um contraponto entre a produção atual e a nova escrita do vídeo saudada por Raymond Bellour no livro” Entre-Imagens”, publicado no início dos anos 1980. Se, para César, o livro era um projeto ambicioso que saudava como era possível crer no mundo das imagens a partir do vídeo sem propor uma experiência transcendente, na contemporaneidade vemos que o vídeo se multiplicou assim como as suas temáticas. “O maneirismo do vídeo fica no passado”, disse César. “Na produção atual, vemos o novo reencontro das imagens do mundo”. Se no trabalho de Bellour, afirma César, o contraponto era a imagem do cinema, na atualidade o contraponto ao vídeo são as novas imagens. “O vídeo é menos inocente e mais simples que a imagem da TV, por exemplo”, afirmou César. Com a diversificação da produção, César propõe que renovemos nossos cânones de criadores de vídeo. “Existe uma produção institucionalizada nas galerias e uma outra ligada ao domínio do anônimo”, disse. Sobre os trabalhos exibidos na mostra, César entende que a questão autoral está intimamente relacionada a questões políticas. Para ele, “(Posthume)” (28’, 2007) de Ghassan Salhab é construído por meio de recursos simples e por imagens bastante literais. Segundo César, o vídeo é constituído a partir da perspectiva dos mortos. “È a estranha memória daqueles que já não estão mais na existência”, disse. “A cidade real é tomada por uma outra, fantasma”.

Sobre “We will live to see these things, or, five pictures of what may come to pass” (47'04",2007) de Julia Meltzer e David Thorne, César destacou que o vídeo trabalha por meio do recurso da ironia. “Já no início vemos uma pequena alegoria, o prédio que se transforma em ruína antes mesmo de nascer”, disse. “Nesse vídeo a chave crítica é irônica”.

Oriente-Médio

César também destacou que esses trabalhos nos oferecem uma nova forma de enxergar o oriente-médio. “Lá eles convivem com os fundamentos da civilização e com uma modernidade cruel”, disse. Os vídeos exibidos na mostra, afirma César, desafiam o espectador a sair do lugar de espectadores de TV para o lugar de espectadores descontextualizadas. “A TV busca sempre colocar um contexto para as imagens que exibe, enquanto esses autores retiram as imagens buscam uma outra relação”. Para César, nossa dificuldade perante essas imagens se dá pelo fato de termos a cabeça cheia de clichês. “Não sabemos nada desse mundo, temos dificuldade de dar conta da particularidade”, diz César.