Un Cercle Autour du Soleil (15’23”, 2005) foi o primeiro vídeo que Ali Cherri realizou na vida. Difícil acreditar, diante da beleza das imagens e da contundência do discurso que elas trazem. O artista invoca memórias marcadas por uma guerra sem vencedores: o prédio cravado de balas, o medo tornado cotidiano. Ali Cherri se questiona se conseguiria viver sem a presença da guerra. Mas a batalha temporariamente findada permite que o seu corpo escondido, mas que não deixa de se reinventar e fabular, retorne à cidade.
Em Untitled (3’15”, 2006) , a sensação de continuidade nós é dada apenas pelo som. A imagem truncada, captada por uma câmera fotográfica, nos mostra uma paisagem com alguns navios partindo do país (que já sabemos de antemão serem navios dos EUA e da França). Mas, se o som é o responsável pela narrativa, pouco ou nada conseguimos captar do que é dito. A tradução só nos é dada no final do video: se tratava de uma mensagem do Estado de Israel, impondo todo a sua máquina de guerra para subjugar a população libanesa. Com recursos simples, Ali nos dá uma dimensão do que aconteceu no Líbano em meados de 2006.
“Eu prefiro manipular imagens a mostrá-las como em um documentário. Eu sou designer gráfico, eu trabalho criando imagens.”
Sobre a realização de Untitled
“Eu usei o celular e câmera fotográfica porque eram os recursos que eu tinha disponíveis, estava preso dentro de casa e não podia sair para pegar uma câmera. Não havia nenhum objetivo estético ou político a priori, foram apenas os meios que eu tinha para registrar aquele momento”.
Sobre a relação com a censura
“É preciso mostrar os vídeos para a polícia, mas eu nunca mostro. Deixo isso sempre para o produtor ou curador dos eventos onde exibo os meus filmes. Ás vezes, a polícia chega durante a exibição para ver que está sendo mostrado. Mas eles são bem educados, convidam a gente para tomar um café e debater o que deve ser mudado ou não no trabalho para não criar problemas. Mas não existe nenhum tipo de coerção nos trabalhos que são exibidos no exterior. O governo fica bem orgulhoso até quando algum libanês é premiado em algum festival internacional. O que existe hoje é a necessidade de se pedir autorização para se fazer uma filmagem pelas ruas do Líbano. Para eu filmar algum prédio, algum monumento, é preciso autorização”.