quarta-feira, março 28, 2007


Al-Shrit Bikhayr - All is well on the border (45’, 1997) de Akram Zaatari

Imagem: Videobrasil

Intencionalmente, ou não, Akram Zaatari brinca com diversas imagens que, por ocuparem em demasia a mídia, ocupam também o nosso imaginário: a criança libanesa fala em tom imponente palavras de ordem, com um que de fanatismo religioso. Mas a imagem, que nos é confortável exatamente por possuir várias nuances assustadoras, deixa fugir algo que entrega o seu caráter de artefato: por um átimo de segundo, um sorriso escapa pela boca da criança, demonstrando toda a sua inocência e desconhecimento do texto que fala. Agora, o desconforto aparece sob outra forma. Como assim pode haver inocência nesse meio corrompido pela guerra? Como essas pessoas, que de tantas vezes se tornarem vítimas, cantam a vingança futura podem, simplesmente, querer tocar a vida?

Podemos citar, ainda, o nosso desconforto ao descobrir que toda a descrição da fuga feita em seus mínimos detalhes por um dos entrevistados, e até então testemunha dos fatos ocorridos, não passa de uma encenação. Só não sabemos se é uma encenação de algo criado por Zaatari ou de algo que realmente aconteceu.

O Líbano pintado no pós-Guerra Civil (ou seria pré-Guerra contra Israel?) por Zaatari foge ao entendimento fácil. Em nenhum momento é possível saber se o que é contado é verdade ou não. O que fica é a pura força da fabulação: o momento em que as personagens se propõem a serem outras, a misturar suas memórias com as memórias do artista, quando atuam para a câmera de Zaatari, “fingindo” ser elas mesmas. Quando um dos personagens encena para a câmera, ele deixa alguns vestígios para que possamos entendê-lo. Para o espectador, resta não se deixar levar por aquilo que se entrega facilmente na tela.

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