Novos ventos russos
Vídeos de Galina Myznikova & Sergey Provorov foram comentados pela professora Maria Angélica Melendi
O projeto Imagem Pensamento exibiu no dia 14/02 a mostra “Novas Vanguardas russas”, com trabalhos inéditos da dupla de artistas russos Galina Myznikova & Sergey Provorov. A mostra foi comentada por Maria Angélica Melendi, artista e professora da Escola de Belas Artes da UFMG. Para ela os vídeos de Galina e Sergey são parte do que resta da pintura no contemporâneo, já que são “vídeos muito lentos, que dão a ver o quadro inteiro”, disse. “Existe um esforço para colocar a gente diante da imagem”. O que chamou a atenção de Melendi foi a presença de traços dos cineastas russos, como Eisenstein e Tarkovsky, no trabalho dos artistas .“Não deve ser influência, mas um modo de ser, um modo de olhar russo”. Melendi comentou cada um dos vídeos:
“Despair”
“Desespero é o nome de um romance de Nabokov e de um filme de Fassbinder, não sei se há aí alguma relação. Esse trabalho me lembrou desenhos em nanquim e fotos antigas. A imagem é bem parada e construída a partir de normas clássicas de enquadramento e composição. A questão central no filme é como os seres humanos mimetizam a paisagem. Esse trabalho me lembra cenas de guerra, filmes de resistência: os ramos como armas. Além disso, é uma cerimônia, um ritual que resulta na ressuscitação do pássaro. Pensando alegoricamente, eu poderia tirar uma moral da história: todos trabalhando juntos, por um mesmo objetivo, conseguem algo. Mas a ressuscitação do pássaro cobra uma vida: há um corpo que cai desfalecido em uma das cenas finais. O filme tem uma coisa de sagrado, um rito sem mito. Esse trabalho é indicado pelos artistas como uma instalação e essa deve ser também uma forma interessante de vê-lo”.
“Fugue”
“É um filme que a princípio parece bem estranho, há uma trama quase erótica. A ruiva que aparece na primeira fileira pode ser vista como a "Vênus" de Botticelli. Há apenas um close no filme, que é o das cabeças que se fundem. As personagens imitam o vento, são arrebatados de forma orgástica pelos ventos. O argumento do filme é perfeito, muito bem pontuado. As coisas são feitas de uma forma muito significativa. A imagem nos permite ver o quadro inteiro”
“Wet Table”
“Esse filme tem um traço daquilo que os críticos chamam de surrealismo. A edição bem marcada e os objetos nos permitem essa relação”.
"The Girl Helicopter"
“O vento aqui, como em todos os outros trabalhos deles, é uma questão bem importante. Especificamente, me lembrou do texto de Walter Benjamin, ‘Sobre o conceito de história’, que ele coloca como imagem da história a pintura Angelus Novus, de Paul Klee: segundo Benjamin, é um anjo que olha pra o futuro, mas que trás às costas as ruínas do passado. A garota helicóptero do vídeo e jogada pelo vento para o passado e para o futuro, ela carrega essas duas temporalidades como o Anjo de Klee”.
Novas vanguardas?
“A gente não fala mais em “vanguardas” atualmente. Mas é difícil não falar nos traços das vanguardas do início do século XX na arte contemporânea. Não sei se podemos falar em novas vanguardas russas, mas entendo a provocação e a chamada à reflexão do titulo da mostra. Acho que os vídeos apresentam uma coisa muito russa, eles não são tão ocidentais, pode ser uma temporalidade particular deles.”
O que você achou da última edição do Imagem Pensamento? Envie o seu comentário, participe!
Vídeos de Galina Myznikova & Sergey Provorov foram comentados pela professora Maria Angélica Melendi
O projeto Imagem Pensamento exibiu no dia 14/02 a mostra “Novas Vanguardas russas”, com trabalhos inéditos da dupla de artistas russos Galina Myznikova & Sergey Provorov. A mostra foi comentada por Maria Angélica Melendi, artista e professora da Escola de Belas Artes da UFMG. Para ela os vídeos de Galina e Sergey são parte do que resta da pintura no contemporâneo, já que são “vídeos muito lentos, que dão a ver o quadro inteiro”, disse. “Existe um esforço para colocar a gente diante da imagem”. O que chamou a atenção de Melendi foi a presença de traços dos cineastas russos, como Eisenstein e Tarkovsky, no trabalho dos artistas .“Não deve ser influência, mas um modo de ser, um modo de olhar russo”. Melendi comentou cada um dos vídeos:
“Despair”
“Desespero é o nome de um romance de Nabokov e de um filme de Fassbinder, não sei se há aí alguma relação. Esse trabalho me lembrou desenhos em nanquim e fotos antigas. A imagem é bem parada e construída a partir de normas clássicas de enquadramento e composição. A questão central no filme é como os seres humanos mimetizam a paisagem. Esse trabalho me lembra cenas de guerra, filmes de resistência: os ramos como armas. Além disso, é uma cerimônia, um ritual que resulta na ressuscitação do pássaro. Pensando alegoricamente, eu poderia tirar uma moral da história: todos trabalhando juntos, por um mesmo objetivo, conseguem algo. Mas a ressuscitação do pássaro cobra uma vida: há um corpo que cai desfalecido em uma das cenas finais. O filme tem uma coisa de sagrado, um rito sem mito. Esse trabalho é indicado pelos artistas como uma instalação e essa deve ser também uma forma interessante de vê-lo”.
“Fugue”
“É um filme que a princípio parece bem estranho, há uma trama quase erótica. A ruiva que aparece na primeira fileira pode ser vista como a "Vênus" de Botticelli. Há apenas um close no filme, que é o das cabeças que se fundem. As personagens imitam o vento, são arrebatados de forma orgástica pelos ventos. O argumento do filme é perfeito, muito bem pontuado. As coisas são feitas de uma forma muito significativa. A imagem nos permite ver o quadro inteiro”
“Wet Table”
“Esse filme tem um traço daquilo que os críticos chamam de surrealismo. A edição bem marcada e os objetos nos permitem essa relação”.
"The Girl Helicopter"
“O vento aqui, como em todos os outros trabalhos deles, é uma questão bem importante. Especificamente, me lembrou do texto de Walter Benjamin, ‘Sobre o conceito de história’, que ele coloca como imagem da história a pintura Angelus Novus, de Paul Klee: segundo Benjamin, é um anjo que olha pra o futuro, mas que trás às costas as ruínas do passado. A garota helicóptero do vídeo e jogada pelo vento para o passado e para o futuro, ela carrega essas duas temporalidades como o Anjo de Klee”.
Novas vanguardas?
“A gente não fala mais em “vanguardas” atualmente. Mas é difícil não falar nos traços das vanguardas do início do século XX na arte contemporânea. Não sei se podemos falar em novas vanguardas russas, mas entendo a provocação e a chamada à reflexão do titulo da mostra. Acho que os vídeos apresentam uma coisa muito russa, eles não são tão ocidentais, pode ser uma temporalidade particular deles.”
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