Intimidade Partilhada
O Imagem Pensamento apresentou nos dias 13 e 14 de dezembro a mostra “Intimidade Partilhada”, com alguns trabalhos de Carlos Nader. Nader participou da sessão do dia 13, debatendo com o público o seu documentário mais recente, “Pan-cinema permanente” (2008), sobre o poeta baiano Waly Salomão.
O diretor contou que a idéia de fazer o filme surgiu junto com o Waly, em meados dos anos 1990. “A idéia era fazer um filme para o grande circuito com uma câmera pequena”, contou. Segundo Nader, as câmeras menores e com mais qualidade surgidas no período possibilitaram uma nova forma de fazer audiovisual. “A tecnologia, reduzindo a câmera, deu de presente para os artistas a possibilidade de produzir uma arte menos mediada”, disse. “Toda arte é mediada, seja pela caneta que possibilita o trabalho do escritor ou o pincel que media o do pintor: sempre há uma tecnologia para realizar o trabalho poético, apesar da redundância do termo trabalho poético”. Para Nader, câmeras menores diminuem o tamanho da equipe, o que faz com que o diretor possa ter uma relação mais direta com o que filma, permitindo que o próprio processo de fazer o filme seja o mais valorizado. “O poema ou um quadro às vezes se revela para você. Aquilo tem uma vida própria e você tem um diálogo com aquilo”, disse.
Waly Salomão
O tema central da fala de Carlos Nader foi o filme sobre o poeta Waly Salomão. “O filme se chama Pan-cinema Permanente por causa de um poema homônimo que ele dedicou pra mim, depois de uma longa caminhada pelo Leblon, na qual falamos das novas possibilidades do cinema, com as pequenas câmeras de gravação que apareceram naquela época, como o Hi-8. A gente se falava todos os dias. É estranho dizer isso, mas o Waly era um bom ouvinte”, lembrou. “Esse filme é um instrumento para divulgar a poesia dele”. Sobre os entrevistados, Nader explicou que a entrada daqueles que aparecem no filme foi uma escolha estética. “Entrevistei umas 20 pessoas, mas usei umas 6 ou 7. Eu só deixei gente com quem eu tinha intimidade e por causa de uma musicalidade”, explicou. “As outras vozes destoaram e o filme foi para um outro caminho”.
Nader também destacou que Pan-cinema não é apenas um filme sobre o Waly. “É um filme com ele, co-dirigido com ele, co-tudo”, disse. “A coisa mais importante do filme é mostrar como o Waly via o mundo. E como eu sou diferente dele, isso ajuda a traduzir essa intensidade que é o Waly”.
A mostra
Além de Pan-cinema Permanente, outros três vídeos foram exibidos. No sábado, junto com o documentário sobre Salomão, foi exibido ainda o vídeo “Carlos Nader” (1998). “O curador às vezes estabelece conexões que a gente não faz. Foi muito interessante ver esses dois trabalhos juntos”, disse Nader. “O Waly não gostava muito desse vídeo, por exemplo, o achava muito subjetivo, além dele aparecer pouco”.
No domingo foram exibidos dois documentários realizados por Nader nos anos 1990, “O beijoqueiro” (1992) e “O fim da viagem” (1996). “São trabalhos bem diferentes do Pan-cinema”, disse Nader. Esses trabalhos, pouco exibidos em Belo Horizonte, são extremamente representativos dentro do que se convencionou chamar documentário contemporâneo. Ausência de narração em off, explicitação do dispositivo e imersão do diretor no ambiente das personagens são algumas das características marcantes dos vídeos.
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